quarta-feira, 25 de junho de 2008

Clientes. Partes V e VI

No dia da derrota de Portugal fui gentilmente enviada para o 7º piso, o paraíso do camping e das piscinas da intex. Uma tenda gigantesca que fica no terraço do Centro. Quando está vento abana como um barco e o chão mexe-se, ao ponto de causar náuseas. Foram porreiros ao mandar-me para lá, já que ali posso fumar de 20 em 20 minutos e nunca tenho clientes. E ainda tenho colchões e colchonetes e redes daquelas com suporte para dormir a sesta. E tendas montadas (o esconderijo perfeito). Enfim, mais uns telefonemas para o pessoal cá de baixo, um pacote de bolachas e uns livros sobre viagens que espalharam por lá para montar o cenário. É uma vida santa.

O problema são os clientes. Gente muito estranha. (Desconfio que é por eu estar lá. Toda a gente sabe que os clientes estranhos vêm sempre sempre ter comigo...)

E a primeira dessa bela noite (rufar de tambores), uma senhora com os seus 40 anos, 1,50m, vestida de ganga de cima abaixo (com a brasa que estava nesse dia), umas botas à motard e uns óculos que lhe iam da testa ao queixo, mesmo à geek.

Eu: "Boa noite! Se precisar de ajuda..."
Sra (corada corada!!!! mas eu pensei que fosse do calor... aos berros): "AGORA??? AGORA É QUE ME PERGUNTAM SE PRECISO DE AJUDA!!!!! DEPOIS DE ESTAR NO ELEVADOR 7 DURANTE 2 HORAS NO SEGUNDO PISO VEM VOCÊ A PERGUNTAR SE EU QUERO AJUDA!!!! NÃO! AGORA JÁ NÃO QUERO NADA!!!"
Eu (A rir-me para dentro e quase quase para fora, com tom de voz condescendente): "Ah que chatice! É estranho a manutenção ter demorado tanto tempo. Não é costume."
Sra(ainda mais irritada): "POIS! MAS FOI O QUE ACONTECEU! E EU VINHA PARA COMPRAR UM CHAPÉU DE SOL E OLHE... JÁ NÃO ME APETECE. VOU-ME MAS É EMBORA!"
Eu (a conter a gargalhada): "Pois, imagino. Mas já que chegou cá acima..."

E a mulher olha para mim com desdém, vira-me costas e vai-se embora.

Eu fui para o terraço fumar um cigarro e rir que nem uma perdida. Mas logo que entrei na tenda aparece o segundo concorrente do concurso do cliente mais bizarro do ano. Rapaz com 30 e poucos, boa apresentação e um ar simpático (embora com um sotaque bizarro...). Foi então que travámos um diálogo de não mais que 10 minutos em que eu fiquei a saber TUDO sobre a vida dele:

Eu: "Olá boa noite. Precisa de ajuda?"
Sr: "Sim! Olá! Tá boa? Preciso de 2 coisas. Primeiro um colete salva-vidas para a minha filha."
Eu (a agarrar num colete de criança): "E quanto é que ela pesa?"
Sr (solta gargalhada estridente com tom sarcástico): "Isso? Nunca!!" - e pega num de adulto para pessoas entre os 70 e os 90 kg.
Eu (com ar de intrigada): "Mas... Que idade é que tem a sua filha? Presumi que ainda seria uma criança.."
Sr: "E é! Mas está um monstro! A avó dá-lhe de comer como se ela fosse uma vaca!"
Eu engulo em seco.
O sr levanta a t-shirt (DELE) e remata com esta: "Eu a gastar milhares com lipos para ficar assim e aquela mula velha dá de comer à miúda como se não houvesse dia de amanhã! É de ir aos arames! Enfim, levo este e nem sei se lhe vai servir!"
Eu (a tremer): "Serve de certeza. Vai até aos 90 kg.Não acha que ela..." - e calei os cornos.
Sr: "Preciso também de um short para a minha mulher, destes mais baratos que temos imensos em casa, mas precisamos de um para amanhã. Ela mede cerca de 1,60m e pesa 55 kg mais ou menos."
Pego num 38 e mostro-lhe. Ele pega nele, analisa e diz-me esta:
Sr: "Hmmmmm... Ela pôs 200 cc em cada mama. Acha que cabe?"
Eu (a pensar "hein???"): "Pois, não faço ideia do volume..."
Sr (olha para as minhas, franze o sobrolho, olha para o peito dele e exemplifica nele o volume): "São mais ou menos assim!" - e manda um sorriso genial.
Eu (já a rir-me para catano...): "Acho que sim! Mas se não servir troca-se!"

Prosseguiu a conversa amena e cheia de risadas em que ele me confessou ter 32.000 contos numa conta, e mais ou menos o mesmo na outra. Falou-me da mulher, da vaca da sogra e do bisontezinho da filha. Na vida dele no Rio de Janeiro e como nunca devíamos desistir dos nossos sonhos. Perguntou-me o que é que eu estava ali a fazer (com um olhar de quem tem pena..). Eu esclareci-o - sou part-time e nem sequer sou daquele piso.. o meu é melhor... blá blá blá.. mais interessante... Faculdade... (curioso como senti necessidade de me justificar...)

No final do encontro, esticou-me a mão. Até aí tudo bem. É normal um aperto de mão de um cliente satisfeito e o ocasional "Oh filha obrigadinha dá cá uma beijoca" das velhotas. Mas este agarrou-me a mão e espetou-me um BEIJO. NA MÃO. E rematou com um "gosto de si!".

Ora foda-se. Contacto físico levado ao extremo. Ao que eu pensei "se gostas mesmo o que era bom era passares para cá uns trocos, já que cagas notas." E foi-se embora todo contente. E eu fiquei ali com a mão toda babada a pensar nas mamas da mulher e na filha gigantesca. E no que demónios estava ali a fazer. Por isso fui ler um livro sobre cidades espanholas seguido de outro cigarro no 8º piso (para mudar de ares).

Há gente mesmo sacada do cú com um gancho. E toda essa gente se atravessa no meu caminho.

2 comentários:

T disse...

opá, o que me ri com isto!!!!

Robene disse...

200 cc em cada mama? Foda-se...