1 mês e meio após marcar uma reunião para fazer a denúncia do Gulag no Tribunal de Trabalho, chegou finalmente o dia. Lá fui eu feliz e contente, crente no poder daquelas gentes que defendem os pobres e oprimidos trabalhadores. Às 14h15m lá estava eu, encharcada até aos ossos (choviiiiia!!!), mas cheia de esperança.
Ora mal cheguei ao 1º piso encontrei logo um amigo, "companheiro de infortúnio", como ele próprio se apelidou. Menos mal, não esperei quase uma hora sozinha, e aproveitámos para pôr a conversa em dia e falar de cinema, música e coisas afins, na "sala de testemunhas"(Uh!...) do 4º piso.
Entretanto lá me chamaram. Entrei para uma sala, onde estava o Senhor Advogado a averiguar dossiers, com a sua ajudante.
Pensei que fosse diferente... Mas afinal, como tudo na minha vida, foi um sem fim de parvoíce. De todas as baboseiras que me disseram destaco as seguintes:
1.
Dr Advogado: "Então e precisava mesmo de mudar o horário da faculdade?"
Eu: "Pois.. Entrei para outra faculdade e o horário mudou."
Dr Advogado: "E tinha de mudar de faculdade?"
Eu: MAS QUE CARA***!! "Sim, entrei para o Mestrado..."
Dr Advogado: "E não havia outro horário? Ou tinha mesmo de ir este ano?"
Eu: "Hein?" - belisco-me, para ver se não estava a ter um daqueles sonhos estapafúrdios - "Não, não havia outro horário... E sim, tinha de ir este ano. Quer dizer, não tinha, mas quis. Isto de ser vendedora part-time não era bem o meu objectivo de vida." - Não estava a dormir. Damn...
Dr Advogado: "Ah, muito bem." e rabisca numa folha...
2.
Dr Advogado: "E porque é que não tentou arranjar outro emprego quando soube que ia mudar o horário da faculdade?"
Eu: FO**-SE!!! "Porque era efectiva na empresa, ganhava bem, gostava do que fazia e na empresa há 2000 empregados e existe rotatividade de horários. Ah e porque a LEI prevê o ajuste de horários para trabalhadores-estudantes."
Dr Advogado: "Mas se eles não lhe trocavam!... Devia ter procurado outra coisa!"
Eu: "Então nesse caso a lei de nada serve, certo?"
Dr Advogado: "Pois não é bem assim..."
Eu: "Então explique-me como é, e porque raio é que eu tinha de procurar outro emprego!" - não explicou.
3.
Dr Advogado: "Então e como é que vai provar que havia um horário disponível para si?"
Eu: "Então e como é que eles provam que não havia? Pois, não sei. Contrato um detective? Diga-me o Dr..."
Dr Advogado: "Pois, isso vai ser complicado..." - Se fosse simples eu fazia sozinha, não achas patego?!
4.
Dr Advogado: "Então e o que é que a Sra pretende?"
Eu: "Que me aceitem a justa causa do despedimento."
Dr Advogado: "E indemnização?"
Eu: "Se tiver direito sim, mas o objectivo principal é mesmo aceitarem a justa causa."
Dr Advogado: "Mas porquê?" - intrigadíssimo.
Eu: "Para ter direito ao subsídio de desemprego?!"
Dr Advogado: "Ah!! Pois é!.." - surpreso. - "E a indemnização?"
Eu: "Sim, também dava jeito!"
Dr Advogado: "Ah mas não sei se tem direito..."
Eu: "Eu é que não sei." - Umpf...
Mas o melhor momento foi protagonizado pela ajudante otária, que me interrompe com um guincho e, com maus modos, irritada e em tom de ameaça profere as seguintes palavras:
5.
Ajudante otária: "Olhe, mas já agora deixe-me que lhe diga que se tiver direito ao subsídio vai ter de fazer apresentações regulares!"
Eu: "Sim, estou ciente disso."
Ajudante otária: "E se lhe atribuírem um emprego tem de aceitar! Senão perde o direito ao subsídio!"
Eu já sem paciência: "E se me arranjarem um emprego compatível com o meu horário de Mestrado aceito COM MUITO GOSTO! Não estou propriamente aqui para tentar a sacar dinheiro ao Estado e não mexer uma palha! E agradeço que não me julgue sem me conhecer!"
Ajudante otária já mansinha: "Estava só a informar das condições..."
Eu ainda exaltada: "Eu conheço as condições, mas obrigadinha!"
Na minha triste vidinha nada é simples. Acho que preciso de um advogado para me defender do Ministério Público.
4 comentários:
que cambada de idiotas! andrea
Ui! Isso tá bonito, tá sissinhora...
Boa sorte nessa luta!
Eu adoptei uma estratégia muito frutuosa em repartições de atendimento tipo finanças e segurança social - levo um livrinho e tiro notas, a começar pelo nome de quem me atende. Nada como começar com um "como é que se chama..?" e anotar para pôr o pessoal em sentido. E escrever tudo o que me dizem. Faço isto porque tenho uma memória de galinha, mas descobri que como efeito secundário os atendedores ficam logo em sentido e a sentirem-se ameaçados por poderem ser responsabilizados pelas informações manhosas que eventualmente possam debitar... Aprende comigo que não duro para sempre! ;)
da´lhe com fé miuda. é preciso é presistencia. SANTINI RULES
A justiça portuguesa é uma merda...
Antes dizer a asneira que dizer aquele clichézinho (bem verdade): "a justiça portuguesa é injusta".
...
Muuuuuito injusta!
...e lenta.
...Muuuuuito lenta!!!
(será que deu para perceber que tenho assuntos do meu interesse, por resolver, no tribunal?!)
kiss kiss*
Enviar um comentário